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  • Foto do escritorDarlan Gebing

Iniciando um diálogo

Atualizado: 8 de jun.




Acabo de assistir o espetáculo Rosa Cuchillo com Ana Correa, atriz de 71 anos do Grupo Cultural Yuyachkani do Peru, um grupo de 53 anos de existência, na programação da XI Jornada Latino Americana de Estudos Teatrais e 4º Colóquio Pensar a Cena Contemporânea realizado pelo Departamento de Artes Cênicas da UDESC durante os dias 26 de maio a 01 de junho de 2024. A partir dessa experiência cênica coloquei em outra perspectiva a minha pesquisa teatral e a minha vida no teatro. Fiquei pensando como tenho pressa e como essa pressa me faz ignorar algo que é muito valioso, o treinamento. O meu treinamento está muito focado numa utilidade, numa objetividade. Eu treino para construir algo, para esse algo se tornar um produto cênico, para que eu possa circular com esse produto. E a desmontagem de Rosa Cuchillo, apresentada na noite anterior, me fez pensar que muita coisa é feita antes da cena final, antes da pesquisa se tornar um produto. Acabo dedicando um tempo que eu poderia estar treinando, para pensar mercadologicamente o que estou fazendo, para pensar a saúde financeira do que eu estou fazendo e da minha carreira. Não quero dizer que isso não seja algo relevante, mas me parece que eu estou negligenciando outras partes que são muito mais importantes para o tipo de teatro que eu quero fazer. Pensando nisso, eu quero olhar com mais calma, serenidade, respeito, acolhimento para a minha pesquisa, para o meu desenvolvimento, que os meus colegas não se tornem uma régua para ficar medindo o meu desenvolvimento. Que a régua seja eu mesmo, a minha própria poética. Quero respeitar o processo, respeitar o lugar onde eu estou. E que seja constante a renovação, a fé e a confiança nisso que eu estou fazendo, porque não é à toa, não é desconectado de uma lógica, não é descontinuado o meu trabalho, pelo contrário, é um trabalho legítimo, sincero com os meus desejos e minhas vontades. Então, tenho certeza que se eu continuar nessa lógica, eu vou chegar num lugar muito particular. O teatro e a vida estão precisando disso, de singularidades. 




Ana Correa me faz pensar em renovar o contrato com as metáforas e a poética do teatro. Que o não-real, o não-realismo, melhor dizendo, ele pode expandir a minha poética e levar ela para um lugar ainda mais singular. E isso, como disse a Denise Fraga, não é criar uma arte que não seja clara. A clareza naquilo que eu quero comunicar com meu trabalho é algo fundamental. Mas não precisa ser algo fácil, com um código e uma convenção super cotidiana do público. Ela pode se dar com uma junção de códigos, de convenções que vão criar dispositivos de afetação, de sentido, que fogem do campo racional. O público não precisa sair com respostas do espetáculo, o público precisa sair com mais questões, mais perguntas. E eu penso que isso se conquista com a criação de uma poética que proponha uma nova relação com o mundo. Novas experiências naqueles lugares convencionais. Eu me interesso pelos espaços públicos, ou seja, um espaço super convencionado, a rua, a praça, o mercado, são lugares convencionados, as pessoas já sabem como se relacionar com esses espaços. Quero pensar uma poética que proponha uma outra forma de relação. Afinal, como disse um mestre chamado Sérgio Mercúrio, tudo é relação. As pessoas que estão ali já estão se relacionando, já existe relação, mesmo na solidão. O silêncio é uma forma de relação. O que eu proponho pensar nesse espaço convencionado é como desnaturalizar-lo, descoloniza-lo, desconvencionando as relações. E para isso, o teatro, que é uma arte estética, uma arte e por isso estética, pode usar de uma poética própria, que proponha um mundo particular, na construção de um trabalho cênico.


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