Um início: por onde começar a fazer teatro?
- Darlan Gebing
- 19 de set. de 2024
- 2 min de leitura
Na tentativa de refletir sobre minha produção atual e sonhar com os próximos trabalhos retorno para as minhas primeiras experiências com as Artes Cênicas: Para além das apresentações na creche, nas quais eu era vestido de tartaruga, de coelho e de outros personagens para representar músicas infantis, a primeira experiência que foi ensaiada e que gerou a ansiedade de entrar em cena foi por volta dos 7 anos de idade na festa de aniversário da minha avó paterna, a vó Selma.

Tradição de família, anualmente Selma reunia seus 13 filhos e as dezenas de noras, genros, netos, bisnetos em um salão para comemorar por três dias seu aniversário. Em uma edição dessa comemoração minha família decidiu ensaiar uma música que contava a história de uma família, e então eu, meus pais e minhas irmãs representamos o que a música falava. Para mim, aquilo foi uma grande brincadeira e um presente para a minha avó. Hoje, olhando para os meus pais, que não frequentam teatro, me pergunto o que fizeram eles decidirem representar essa cena.
A música foi: Utopia do Padre Zezinho.
A segunda experiência marcante com o teatro foi a primeira vez que assisti uma peça na escola de ensino fundamental, tinha 9 anos e uma versão de Romeu e Julieta passou por lá. Eram dois atores no palco, o cenário, o figurino e a encenação transformaram o salão de festas comunitário em reinos, florestas, paisagens que nunca tinha visto neste lugar que frequentava para almoços comunitários. Descobri, assistindo aqueles corpos que transitavam de personagem, voz, movimento, que eu poderia ser várias pessoas com o meu corpo. Novidade para mim, visto que até então os sujeitos presentes no meu cotidiano sempre estavam representando o mesmo papel, sem muitas transformações.
Foi através dessas experiências e das tardes maratonando novelas na televisão que eu anunciei aos 11 anos que era isso que eu queria fazer, era ali que eu queria estar. Minha mãe, percebendo a semente que estava germinando em mim, tratou de procurar um curso de teatro na cidade, porém sem condições de pagar precisou encontrar um projeto social. Foi no meu primeiro ano de curso livre de teatro que a minha primeira professora, Andréa Peres, me convidou para participar do seu grupo teatral Quiquiprocó. Aos 12 anos estava participando de um grupo de teatro profissional que trabalhava com teatro de bonecos e objetos. Comecei a receber meus primeiros cachês, foi uma resposta que meu desejo precisava para seguir acreditando que eu poderia fazer do teatro minha fonte de renda e de re-existência.
Desde então foram muitos cursos, escolas, mestras e mestres, residências, formações e experimentações cênicas que me fizeram reafirmar o meu desejo. Hoje acredito que o teatro, para além de uma fonte de renda, é um método de vida, é uma forma de participar da vida, de se relacionar consigo e com o outro. Por isso decidi seguir pesquisando essa linguagem e ampliando cada vez mais a presença dela no meu cotidiano.
